segunda-feira, 4 de abril de 2016

PSICOLOGIA DE UM VENCIDO – Augusto dos Anjos

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância ...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – esse operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra.

Nota do blog: A crueza dos versos de Augusto dos Anjos revela uma desesperança que aflige o leitor. Autor de um único livro, intitulado "Eu", Augusto dos Anjos é de fato o personagem, o próprio eu lírico dos versos, como deixa claro o título do livro. Note que no primeiro verso ele faz referência a vida, ao recitar "filho do carbono" (matéria orgânica), vida essa que se esvai aos poucos, de maneira mórbida, até se findar no ultimo verso "Na frialdade inorgânica da terra"...  O controverso poeta (um dos meus favoritos), causa sentimentos variados nas pessoas, de nojo e repulsa a admiração e entusiasmo. Seja como for, é impossível ficar indiferente aos poemas de Augusto dos Anjos!

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