Eu, filho
do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância ...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – esse operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à
vida em geral declara guerra,
Anda a
espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra.
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra.
Nota do blog: A crueza dos versos de Augusto dos Anjos revela uma desesperança que aflige o leitor. Autor de um único livro, intitulado "Eu", Augusto dos Anjos é de fato o personagem, o próprio eu lírico dos versos, como deixa claro o título do livro. Note que no primeiro verso ele faz referência a vida, ao recitar "filho do carbono" (matéria orgânica), vida essa que se esvai aos poucos, de maneira mórbida, até se findar no ultimo verso "Na frialdade inorgânica da terra"... O controverso poeta (um dos meus favoritos), causa sentimentos variados nas pessoas, de nojo e repulsa a admiração e entusiasmo. Seja como for, é impossível ficar indiferente aos poemas de Augusto dos Anjos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário